Marilda, minha esposa, achou que eu tinha enlouquecido quando anunciei: 'Vou pra Minas, amor. Preciso de uma turmalina negra que eu mesmo desenterrei'. Ela revirou os olhos, me entregou um termo de chimarrão reforçado e disse: 'Vai, Josivaldo. Mas se a onça pegar, não adianta chamar o espírito da pedra'. E assim, com uma mochila, uma picareta e a teimosia típica do sulista, embarquei numa viagem de 1.500 km atrás do cristal mais místico do Brasil.

A Serra do Cabral, em Minas Gerais, é o paraíso dos caçadores de pedras. Turmalina negra? Lá tem aos montes – mas só quem já pisou nesse cerrado sabe que 'achar' é verbo que exige paciência, joelhos ralados e uma fé digna de romaria. Cheguei ao amanhecer, com o sol pintando o céu de laranja e os pássaros fazendo o maior barulho (até parece que sabiam da minha missão).

Segurem suas cuias, porque aqui vai o segredo: turmalina negra BRUTA não é essa coisa lisinha que vocês veem em joias. Ela parece um carvão gourmet – preto fosco, cheia de arestas, mas com um brilho secreto quando a luz acerta no ângulo certo. E olha que interessante: na escala de Mohs (aquela que mede dureza), ela é um 7–7.5. Traduzindo? Dá pra riscar vidro com ela, mas uma faca não faz nem cócegas. Química pura: (Na,Ca)(Li,Mg,Al)₃Al₆(BO₃)₃Si₆O₁₈(OH)₄ – mas pode chamar de 'pedra do raio' porque ela é piroelétrica (gera energia quando esquentada... sim, é mágica disfarçada de mineral).

Passei três dias revirando o terreno, seguindo dicas de garimpeiros locais (e tomando cuidado com cobras, porque até a cascavel respeita a turmalina, mas não tanto assim). Até que, num cantinho escondido perto de uma cachoeira – onde a luz do sol filtrada pelas árvores criava um efeito de 'holofote divino' – vi uma pontinha escura saindo da terra. Meu coração gaúcho quase parou. Cavando (e suando como um touro no rodeio), desenterrei uma turmalina negra do tamanho de um ovo de galinha, irregular, cheia de personalidade – e toda MINHA.

Pra quem acredita em cristaloterapia, essa pedra é o 'seguro contra mau-olhado' do mundo mineral. Dizem que ela:

  • Protege contra energias densas (ótima pra parente folgado em reunião de família)
  • Equilibra as emoções (eu, depois de 3 dias cavando, testemunho: funciona... ou quase)
  • É a pedra oficial do signo de Capricórnio – e olha que nem sou, mas aceito!

Joalheiros amam turmalina negra polida em pingentes ou anéis – mas eu prefiro a minha no estado bruto, cheia de histórias (e um pouco de terra mineira colada). Se você quer achar a sua, anota aí: Serra do Cabral, Diamantina, ou até mesmo em garimpos legais da Bahia. Só não espere que ela pule no seu colo – turmalina exige suor, e talvez umas picadas de inseto.

Voltei pra Lucas do Rio Verde com a pedra no bolso, a Marilda rindo da minha 'loucura geológica' e uma certeza: minerador que se preza não tem sossego enquanto não colocar as mãos na própria pedra. E agora, quem sabe, minha próxima aventura não seja atrás de uma água-marinha em Goiás? Mas aí... isso é história pra outro chimarrão.

Publicado por: Gemologia Curiosa